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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A política vai às ruas



O crescimento da insatisfação popular e da polarização na sociedade faz a política transbordar para as ruas. Este fenômeno, próprio a momentos de crise, também expressa por aqui o fracasso de um sistema político ao mesmo tempo impermeável à influência do povo e escancarado aos interesses econômicos.

Agosto será um mês decisivo, em que as ruas colocarão em jogo projetos distintos para o Brasil.

De um lado, a "nova direita" convocou mobilizações para o dia 16, com apoio declarado do PSDB, da Rede Globo e da maior parte da mídia. A chamada tem sido feita explicitamente em programas de TV e rádio. Querem aproveitar o avanço da Lava Jato e a corrosão do apoio ao governo para emplacar o impeachment de Dilma.

Falamos "nova direita" por convenção, mas suas táticas são tão velhas quanto Carlos Lacerda. Valer-se de denúncias de corrupção; -pinçadas seletivamente para atingir um único partido- e do controle da mídia para derrubar governos é prática antiga na América Latina. Refinaram o método por um calendário de "coincidências" com prisões da Lava Jato, vazamento de delações e o dia D do TCU (Tribunal de Contas da União), apimentando o período anterior à mobilização.

Mas o que essa turma quer? Qual é o seu projeto? Livrar o Brasil da corrupção, dizem. Ao lado de Agripino Maia, Ronaldo Caiado e com apoio da Globo. Contra a corrupção, mas de mãos dadas com Eduardo Cunha. Sei, sei. Já em relação às políticas de austeridade, o programa econômico que defendem faria de Levy um desenvolvimentista.

Os que estão puxando o 16 de agosto não têm autoridade moral para falar de corrupção e usam fraseologias vagas para ocultar um projeto de país antipopular. No entanto, com apoio da mídia e de uma sucessão de eventos cuidadosamente planejados, podem levar muita gente às ruas, canalizando a insatisfação social com o governo.

Do outro lado, em 20 de agosto, movimentos sociais de todo o Brasil estão organizando mobilizações para apresentar outras saídas para a crise. MTST, MST, CUT, CTB, Intersindical, UNE, setores da Igreja Católica, movimentos negros e de juventude estarão nas ruas defendendo direitos sociais, enfrentando o ajuste fiscal do governo Dilma, mas enfrentando também a ofensiva da direita golpista e as manobras de Cunha.

Ao contrário do que um contraponto simplista possa fazer crer, o dia 20 não será uma manifestação de defesa do governo. O manifesto de convocação assinado pelos movimentos é claro: "A política econômica do governo joga a conta nas costas do povo. Ao invés de atacar direitos trabalhistas, cortar investimentos sociais e aumentar os juros, defendemos que o governo ajuste as contas em cima dos mais ricos, com taxação das grandes fortunas, dividendos e remessas de lucro, além de uma auditoria da dívida pública". Não há qualquer disposição em defender uma política econômica indefensável.

Mas o mesmo manifesto também é claro em enfrentar a ofensiva conservadora e antidemocrática conduzida por Cunha e sua trupe: "Eduardo Cunha representa o retrocesso e um ataque à democracia. Transformou a Câmara dos Deputados numa casa da intolerância e da retirada de direitos. Somos contra a pauta conservadora e antipopular imposta pelo Congresso e estaremos nas ruas em defesa das liberdades: contra o racismo, a intolerância religiosa, o machismo, a LGBTfobia e a criminalização das lutas sociais".

A manifestação do dia 20 defenderá pautas populares e enfrentará a política do governo e do Congresso, sem lugar para a indignação seletiva daqueles que convocam o dia 16. Aqueles que dizem "fora Dilma", mas se calam em relação ao "fora Cunha"; aqueles que denunciam a corrupção na Petrobras, mas assobiam diante da Zelotes e são apaixonados por Aécio Neves; enfim, os que dizem querer um "Brasil livre", mas dividem as ruas com defensores da ditadura militar.

De um lado ou de outro, uma coisa é certa: os caminhos da política brasileira passarão pelas mobilizações das próximas semanas.

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